Um ano com Virginia Woolf #13 - Ao Farol
Rio de Janeiro, 14 de maio de 2021
Olá,
como vai a vida?
A última newsletter está reverberando por aqui, estou pensando em como eu leio um livro. Recentemente terminei de ler dois romances maravilhosos(!), e me dei conta de que, ao terminá-los, eu precisava de um descanso de ficção. Observei que se engato numa leitura teórica o processo de assimilação da leitura anterior flui bem, a mente parece mais arejada para histórias novas e as imediatamente anteriores vão sendo apreciadas.
Agora que não tenho mais que ler Virginia Woolf (para a tarefa que propus a mim mesma), minha lista de leitura está bem flexível, inclusive aceito sugestões.
Um dos romances terminados é o último do projeto #UmAnoComVirginiaWoolf: Ao Farol (1927). Mais um texto belíssimo, não à toa é considerado uma das obras-primas da autora. (Sem dúvida está entre os meus favoritos).
Em Ao Farol, conhecemos a sra. Ramsay, seu marido, os oito filhos e alguns amigos que costumam passar o verão em uma casa já desgastada nas ilhas Hébridas. A primeira parte, intitulada “a janela”, começa como se fosse uma história em andamento. Os filhos mais novos querem ir ao farol, mas o pai, sr. Ramsay, insiste em que, no dia seguinte, o tempo não vai estar bom para o passeio, o que leva a um dos embates silenciosos entre marido e mulher.
Todas as personagens rondam a sra. Ramsay: a amando, tentando entendê-la ou lutando com ela. É uma mulher inteligente, mesmo que diga o contrário, que executa com destreza o papel de “anjo do lar”, cuidando da casa e da família.
Estava tentando acabar essas meias intermináveis para mandá-las ao filho menor de Sorley, amanhã, disse a sra. Ramsay.
Não havia a menor possibilidade de irem ao Farol amanhã, irrompeu o sr. Ramsay irascivelmente.
Como podia sabê-lo? perguntou ela. Frequentemente o vento mudava.
A extraordinária irracionalidade de sua observação, a ilogicidade da mente feminina, o enraiveciam.
Na segunda parte, “o tempo passa”, vemos, através da degradação da casa e do vai-e-vém de pensamentos dos empregados, os acontecimentos dos últimos anos. Agora, a velha casa se prepara para o retorno da família depois de tantas mudanças. Quase como uma névoa, o destino de algumas personagens nos são revelados: casamentos, filhos, guerra, mortes, incluindo a da sra. Ramsay e de alguns de seus filhos.
Na terceira parte, “o farol”, o retorno de alguns acontece. Sr. Ramsay, o viúvo, realiza, finalmente, o passeio ao farol com os filhos mais novos, agora quase adultos. O embate dos filhos com o pai durante o passeio retoma a percepção que a própria sra. Ramsay tinha dele. Lily, uma amiga da família que começou a pintar um quadro da sra. Ramsay anos antes, em seu retorno à ilha, retoma a pintura.
Ao Farol é um romance de Virginia Woolf quase autobiográfico, com a sra. Ramsay sendo um retrato de Julia Stephen (mãe de VW); e sua morte, um acontecimento aterrador para a família. Ainda assim, ela está presente o tempo inteiro, a notícia de sua morte não a tira do romance. O livro é sobre o imenso amor de uma filha pela mãe.
Ali estava, diante dela: A vida: pensava, mas não terminava o pensamento. Olhou a vida de relance, pois a sentia nitidamente ali, algo real, íntimo, que não compartilhava com os filhos, nem com o marido. Existia uma certa troca entre elas, na qual ela ficava de um lado, e do outro a vida.
A Sra. Ramsay conversa com a vida. Esta frase linda ouvi em um curso sobre Virginia Woolf, em abril, e enquanto terminava de ler o romance, ela repetia na minha cabeça. O que eu falaria para a vida?
É um daqueles momentos de consciência de tudo ao nosso redor, não importa o ruído dos talheres e das vozes, o movimento de quem entra ou sai da sala de jantar. Acredito que a sra. Ramsay viu com muita clareza o que acontecia ao seu redor e compreendeu que era a vida.
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Há alguns traduzi um trecho do Ao Farol que publiquei no Medium.
No site literary hub a editora Emily Temple fez uma playlist para ler este clássico de Virginia Woolf: https://lithub.com/playlist-for-a-classic-novel-to-the-lighthouse/
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Imagem da capa de To the Lighthouse por Vanessa Bell (irma de Virginia)
Godrevy Lighthouse, de Judith Bridgland
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Usei a edição da Ediouro de "Ao Farol", traduzida por Luiza Lobo, de 1993.
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Até mais, Elaine.